Quando era criança na rua Ararigbóia, ouvia dos mais velhos, histórias a respeito dos comunistas. Falava-se muito, que eles queriam o poder para cometer muitas barbaridades contra a população. Talvez, fruto do fracasso da Intentona de 1.935. Naqueles tempos das décadas de 50 e 60, o velho Nico Moré, era um janista fanático, mas pouco se importava com os comunistas. Achava que Jânio Quadros iria endireitar o Brasil.
Dos “perigos” dos comunistas se ouvia falar muito pelas ruas e na escola. Naquela época nós estudávamos no Ginásio Estadual no prédio hoje ocupado pela Escoteco e que também era o Colégio Comercial no período noturno.
Ali por perto, por coincidência morava um “comunista”. Entre a garotada corria a informação de que ele tinha muitas armas. Meio assustado fiquei sabendo que era o Roberto Sponton. Quando ia à escola, via sempre entrar na velha casa de madeira, um “baixinho”, que a gurizada chamava também de “comunista”.
Com o correr dos tempos fomos conhecendo os filhos do “comunista” ...O “Loyo”, a Lucimara, a Lucey e a Lucieide. O primeiro, filho mais velho foi nosso colega de escola. De vez em quando, com a eclosão do movimento de 1.964, sabíamos que o “velho Sponton” era convocado para ir a São Paulo por causa de sua ideologia. Nunca fez mal à ninguém. Nunca deu um tiro contra o regime. A não ser para experimentar as armas que arrumava.
Mais tarde a Lucieide começou a namorar o Moacyr, advindo o casamento. O Moacyr sempre expansivo na Rádio AM, contava com estardalhaço que ouvia com o sogro a Rádio de Moscou e que às vezes chegavam jornais da Rússia.
E aquele “baixinho” estava sempre lá com o “seu” Roberto. Já moço, conheci o “baixinho”. Era o Amaro. Conversador, irrequieto, passos curtos e ligeiros, defendia como ninguém a ideologia do “Partidão” como era chamado o Partido Comunista. Falava que logo chegariam ao poder, para combater aos latifundiários e fazer a reforma agrária, dando terra aos trabalhadores.
Também, apesar da verbalização às vezes exagerada, nunca deu um tiro, cortou cerca ou invadiu terra de ninguém. Era um idealista. Não escondia o que pensava. Não era enrustido. Fundou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Presidente Venceslau. Procurava sempre o acordo entre as partes. Nos anos que esteve à frente do Sindicato granjeou a simpatia dos patrões e nesta segunda-feira ouvi três fazendeiros lamentando a sua morte.
Pasmem... morreu sem estar aposentado. Ficou nos últimos anos no Sindicato e não cuidou da sua própria aposentadoria. Centenas de trabalhadores rurais foram aposentados graças à sua interferência.
Amaro Umbelino de Barros, fundador do PC do B em Presidente Venceslau foi assim. Um comunista – uma pessoa comum, simples humilde, pequena no tamanho, mas grande nas idéias, apesar da pouca cultura.
Daí o nosso título “O ULTIMO DOS COMUNISTAS”, sem rancor, sem vaidade, sem personalismo. Um venceslauense, que amava esta terra como ninguém e que tinha um ideal: um mundo onde todos fossem comuns, ou seja: iguais. Descanse em paz.
Clóvis Moré
Jornalista Profissional -
quarta-feira, 23 de julho de 2008
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