Hoje, 22 de maio de 2.008, faz um ano que perdemos o dr. Kesao Kasai. Tenho vários motivos para lembrar com saudade deste grande amigo. Na missa de 1 ano de sua morte, a sua filha Keyla emocionou a todos os presentes, com a leitura do texto que reproduzimos:
Uma reflexão sobre a morte –Por Pedro Bial
Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do Casseta e Planeta deram seus depoimentos. Parecia que a qualquer instante iria estourar um piada. Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena. Mas nada acontecia ali de engraçado. Era só dor e perplexidade.
A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo! Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento no cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha pra um cliente? Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer. A troco de que? Você passou mais 10 anos de sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quando a profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente... De uma hora para outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumas suas tralhas, a mexer nas sua gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue à próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas, mulheres e morre num sábado de manhã... Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério? Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo já não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas.
Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz. Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer cedo é um exagero. E como se sabe, o exageroo é a matéria-prima das piadas. Só que esta não graça. Por isso viva tudo que há para viver.....
Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da Vida ...
Perdoe.......sempre!!!
Este texto foi enviado pelo dr. Kesao, para sua filha poucos antes de sua morte. Uma reflexão profunda de alguém que, como Bussunda, morreu muito cedo, mas aceitou os desígnios de Deus, pela sua fé, força de vontade e amor ao próximo.
Clovis Moré
Jornalista Profissional
sexta-feira, 23 de maio de 2008
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